Não sou funkeira. Não tenho nada contra, acho algumas músicas divertidas, mas não é um estilo de som que ouço no meu dia-a-dia.
No auge da minha adolescência, Bonde do Tigrão virou moda. Era normal escutar músicas deste grupo nas matinês e festas de aniversário, para o espanto de muitos pais. E eu dançava timidamente sem ir até o chão...
Nesta época, estava cursando o primeiro colegial em um colégio católico e me lembro que funk foi assunto em uma aula de religião. A aula não foi com tom de falso moralismo, mas um alerta para nós então adolescentes.
Na mídia, pipocavam notícias sobre meninas que estavam engravidando em bailes funk, que iam propositalmente com saia curta e sem calcinha, daí com um esfrega aqui e outro ali, faziam sexo com algum tigrão na pista. E a professora entregou xerox de umas das matérias para cada aluno ler pra depois então todos debatermos sobre o assunto.
O tempo passou, caí no mundo e na vida. Por muitas vezes fui obrigada a ouvir funk porque algumas amigas gostavam, e quando estava na balada que frequentávamos e este estilo rolava, eu dançava sem mais tanta inocência. Dancei várias vezes ´Vai, Lacraia! Vai, Lacraia!´ e desci até o chão com vontade.
Eu gostava da Lacraia, não apenas por ser divertida e dançar de uma maneira engraçada, mas por ter um jeito especial de ser, quebrando regras até mesmo dentro do mundo funk. Não era uma mulher boazuda como até então estávamos acostumados a ver nestes grupos, mas era um homem gay. Sendo alvo fácil de preconceito, demonstrava não se importar com os comentários alheios. Era feliz daquele jeito, gostava de dançar como bem quisesse, se divertia no palco e ria de si mesmo. Era gostoso vê-lo dançar.
Marco Aurélio ao ser Lacraia, ajudou a quebrar preconceitos. Foi mais um que mostrou que temos de buscar a felicidade onde quer que ela esteja. Simples assim.