Fui assistir Lovelace sabendo pouco sobre a garota que provocou uma revolução sexual nos anos 70 ao protagonizar o Garganta Profunda.
Assim que recebi o convite da Paris Filmes para conferir este filme biográfico, fiquei com vontade de pesquisar sobre a vida da atriz pornô mais conhecida dos Estados Unidos. Afinal quem é Linda Lovelace?
Decidi por fim não pesquisar sobre, pois preferi descobrir e responder a pergunta acima com o filme, sem estar influenciada por textos na internet para justamente fazer esta descoberta diante da telona.
Fui curiosa e sem criar expectativas. Quando o filme acabou, respirei fundo, enxuguei as lágrimas e precisei de alguns segundos para me recuperar. Passei o restante do dia pensando sobre a história e me lamentei por Linda já não ser mais viva, pois certamente mandaria um e-mail a ela, com confidências, elogios e deixando claro que acabara de ganhar mais uma admiradora.
Lovelace mexe com vários sentimentos do espectador. Impossível não sentir as dores físicas e psicológicas de Linda. As cenas quentes tornam-se apenas detalhes, por isso não pense que se excitará com os momentos da garganta profunda. Mas, tenho certeza que você sairá do cinema julgando menos a vida dos outros.
O ápice da história é quando a realidade é mostrada, como se de repente como espectador, tenhamos ganhado o poder de invadir o interior mais profundo de Linda, e pudéssemos então entender o que se passava com esta jovem. Não, nada estava tão bem quanto parecia estar. Daí em diante, nossa visão e os sentimentos são rapidamente substituídos.
As mulheres se identificarão nos primeiros momentos do filme, afinal qual nunca se apaixonou por algum cara no estilo do Chucky? Um príncipe nos primeiros encontros, que abre a porta do carro e nos faz acreditar que é o homem da nossa vida, mas que em pouco tempo de relacionamento, fecha a porta de nossos sonhos femininos mais íntimos. Me identifiquei com a falta de apoio dos pais conservadores e também tive uma amiga-irmã como a Patsy.
Quando Chucky apanhou merecidamente com cintadas, assumo que dei uma risadinha sarcástica. E no momento que Linda teve oportunidade de pedir socorro aos policiais, senti uma leve revolta por ter decidido proteger seu amado agressor. Aliás, nesta cena podemos perceber que a mulher que sofre violências domésticas, não busca ajuda por acreditar que merece viver a situação e acredita que o vilão se tornará mocinho a qualquer momento. E quantas mulheres não se anulam para se dedicar apenas à vida do homem que ama?
Por muitos anos, ela foi marionete do próprio marido. Não sentiu prazer ao fazer a famosa Garganta profunda, quanto menos buscou desfrutar os holofotes da fama.
Não sei se teria força e coragem para viver tantas situações estando obrigada, pois o principal ponto que nos diferencia é que minha aventura sexual foi por livre e espontânea vontade.
Além de a história mexer com o espectador, achei o filme muito bem feito, instigante e a trilha sonora é a cereja. E uma boa surpresa foi não ter reconhecido Sharon Stone.
Na cena final, é impossível não chorar ou no mínimo se emocionar com o desfecho. No meu caso, minha emoção foi dobrada porque foi no momento que mais me coloquei no lugar de Linda. Ela conseguiu receber os abraços que busco até hoje.
Por fim, Linda foi considerada como diva, mas sem ter o direito de desfrutar os prazeres da vida.